Histórico! É com grande prazer que recebemos hoje no nosso Blog Benê de Moraes, que é Agente Cultural da Secretaria de Cultura na Prefeitura Municipal de Campinas e atualmente trabalha na Casa de Cultura Andorinhas e no CeCCo Tear das Artes.
Benê você é de Campinas? Como chegou aqui?
Sou de Santo Antonio de Posse e vim para Campinas em 1974. Morei em fazenda e na zona rural da minha cidade. Mudei pra Campinas para trabalhar. Trabalhei em fazendas, de uma senhora que se chamava Lilian e depois na Pedra Brasil. Trabalhei no Padre Anchieta, na Estação Cultura e vim para essa região do DIC VI para ajudar nos cuidados da minha mãe que já estava doente. Hoje ela é falecida. Mas eu continuo trabalhando aqui na região antes trabalhava em Núcleos de Crianças e Adolescente (Como LBV) e hoje Trabalho na Casa de Cultura Andorinhas.
Benê o que você quer com seu trabalho?
Meu trabalho com Cultura, faço desde pequeno, busco a libertação do nosso povo por meio da cultura popular. Desde pequeno aprendi com meu pai, que era do Grupo de Folia de Reis, que a Cultura tem que ser prioridade na nossa vida. Meu pai tocava pandeiro na Folia de Reis. E eu desde pequeno acompanhava. Eu trabalhei na SETRANSP (que era a da secretaria de Transito), mas mesmo nessa época eu já fazia parte de grupos de teatro. E nas minhas horas vagas eu fazia peças de teatro. Nessa época, enquanto trabalhava, a gente formou um grupo de teatro que se chamava Savuru que buscava na época da Ditadura protestar contra a matança de índios pelo regime Militar, além de divulgar a cultura indígena e afrobrasileira.
As pessoas acham que Cultura é só aquilo que a gente vê no Castro Mendes (Teatro de Campinas) e o que passa na televisão e o que eu quero mesmo é mostrar que a nossa cultura ela é popular e está em todos os lugares e precisamos divulgar isso para todas e todos. Por exemplo, descobri trabalhando aqui na região que temos um grupo de Folia de Reis e que quase ninguém conhece. E o exemplo da Folia de Reis é o exemplo de como anda a valorização da nossa cultura. Esse grupo é ainda composto na maior parte de pessoas já idosas e tem poucas crianças e adolescentes que entendo ser fundamental para continuar a herança desse grupo. Eu valorizo bastante a poesia de um poeta Pernambucano, chamado Solano Trindade, que marcou e me influencia até hoje. Aprendi Dança com a filha dele, a Raquel Trindade.
E sobre a valorização da Cultura no Brasil, Benê?
Eu acho que o nosso país tem um patrimônio Cultural enorme e infelizmente a maior parte dessa riqueza cultural permanece desconhecida. Então meu trabalho é também de divulgar essa produção cultural. Hoje as universidades se interessam mais pela Cultura Popular mas ainda essa divulgação não alcança a população como um todo.
Ô Benedito qual é o seu projeto na Casa de Cultura Andorinhas?
Eu fui para a Casa de Cultura para fazer um projeto cultural com crianças. Trabalhamos em escolas, com dança, tem atividades de capoeira, já tivemos até um bloco de Carnaval. Criamos há 5 anos também um Sarau Cultural que acontece no Bosque do DIC I, todo o primeiro domingo do mês à tarde. Esse Sarau existe até hoje porque a comunidade abraçou. Hoje temos apresentações de poesias, de música, culturais e reivindicações políticas.
O que é um Sarau?
O sarau acontece desde a idade média e era uma reunião de pessoas para discutir as questões da cidade e junto tinha arte e poesia.
Como é ser o profissional da Cultura?
Cria uma Confusão Danada por que tem horas que eu não sei quando eu estou trabalhando e as horas que eu estou fazendo ação cultural. Eu gosto muito do que eu faço e tem horas que realmente eu não imagino estar trabalhando. As vezes tenho um pouco de frustração de algumas coisas, mas acho que vale muito a pena. Por exemplo, teve uma época que eu trabalhava na Vila Padre Anchieta e a gente trabalhava com teatro. Fui convidado pela Administração do Prefeito Magalhães Teixeira para promover cultura no contexto desse bairro, pois, havia muitos conflitos entre moradores do bairro. Foi preciso nascer outra geração para reduzir os conflitos mas acho que a gente também fazendo o trabalho cultural fez com que hoje a comunidade seja mais integrada.
O que você considera hoje mais importante nessa sua trajetória e você teve apoio da sua família?
No começo tive mais apoio da minha mãe. Meu pai achava as vezes que ia não dar em nada. Hoje lembro do meu pai e faço uma comparação com o povo brasileiro. Ele achava que eu ia apanhar muito na vida até aprender e parece nosso povo. Sou de uma família de 12 irmãos. Tive muito apoio da minha mãe. Hoje sou avô já. Tenho uma filha de 26 anos e tenho 2 netos.
Estamos chegando em um momento muito conturbado de nossa política e essa está sendo uma das eleições mais duras que estamos vivendo. O que você acha disso?
Eu vivi a ditadura militar. E eu não voto em quem elogia torturador. Eu conheci várias pessoas que morreram em decorrência de tortura do regime militar. Então o Jair Bolsonaro, por exemplo, nunca vai ter um voto meu. A importância do trabalho cultural é poder também levar até as comunidades conhecimento. Um exemplo: as igrejas estão atacando muito nossas comunidades e acho que as pessoas estão sendo muito influenciadas por esse pensamento que traz uma ideologia que muitas vezes não valoriza a comunidade.
Você sofre discriminação porque você toca (é músico) imagina quem não tem essa capacidade que você tem. Não cabe nosso país discriminação. O que você acha?
Acho que nosso país tem espaço para todos. A Discriminação existe. E eu tento passar por cima disso. Por exemplo, já fui considerado macumbeiro por tocar tambor. Mas eu tento levar a mensagem do amor e isso é na minha opinião o que ajuda a mudar a sociedade!
Causos do Benê:
"Um dia eu estava em um Posto de Saúde panfletando e me perguntaram o que eu pretendia divulgando aquela atividade de cultura e eu respondi: "Eu pretendo mesmo é diminuir essa fila do posto de saúde com a cultura!"
"Teve uma vez que estava em um Sarau aqui em Campinas, o Sarau da Dalva, que acontece lá no São Quirino. Aí tinha um pessoal de uma escola daqui do bairro lá no Sarau e falaram que eram aqui da região dos DICs e aí o pessoal do Sarau falou: - Nossa de lá? Então vocês devem conhecer o Benê? E eles não me conheciam...vocês acreditam que nós fomos nos conhecer lá do outro lado da cidade?"
"Uma vez meu neto falou assim: eu não vou chamar mais você de avô porque você é diferente dos "vôs" daqui. Você não tem jeito de velhinho que nem eles! Mas como você é pai da minha mãe acho que você é meu vô mesmo"
Para Conhecer:
Sarau da Associação do Campos Elísios: Acontece a cada 2 meses na Associação do Campos Elísios e em Datas Comemorativas.
Sarau Literário da Biblioteca Municipal de Campinas: Este Sarau acontece todo o último sábado do mês das 10h às 12h em frente a Biblioteca Municipal no Centro de Campinas.
Sarau da Dalva: Acontece toda 2a quarta do mês no Bar da Dalva lá no São Quirino a partir das 20h.
Sarau do Bosque do DIC I e da Casa de Cultura Andorinha: Todo primeiro domingo do mês à partir das 14h no Bosque do DIC I.
Oficina da Dança: Acontece na Casa de Cultura Andorinha toda quarta das 14h da tarde às 15:30h.