A vida em sociedade está muito diferente. A tecnologia provocou muitas
mudanças na maneira das pessoas conviverem uma com as outras.
A tecnologia proporcionou acesso a um
mundo totalmente diferente na palma da mão. O que por muito tempo era
inacessível para a maioria das pessoas agora não é mais, porém, ficamos com a
impressão de que ela também afastou as pessoas umas das outras.
Por que será que isso aconteceu?
Um exemplo do que acontecia antigamente e hoje mudou é que tínhamos a necessidade de conversar mais com as pessoas
para descobrir muitas coisas que precisávamos na vida. Tipo assim, antes do GPS
nós precisávamos conversar para descobrir como chegar aos endereços dos lugares
para onde a gente ia e isso já provocava que conversas entre pessoas
diferentes fossem obrigatórias.
Parece que hoje temos menos festas nas
comunidades. O que era um importante espaço de encontro dentro dos bairros para
as pessoas se encontrarem e conhecerem pessoas diferentes.
Sobre intimidade, observamos que por
uma série de motivos nem sempre a relação entre pessoas da mesma família é
íntima por outro lado parece que é mais fácil ter intimidade e falar com pessoas
nossas amigas.
Mas, isso nem sempre é percebido de
forma tranqüila. Tem pessoas que são questionadas por dedicarem mais tempo aos
amigos do que para a família. Esse dilema nos intriga, pois, o fato de ter
amigos não significa que a gente desgosta da família, mas a falta da nossa
companhia faz falta às pessoas que gostam da gente.
Uma coisa é fato, o tempo passa e a
vida muda. A nostalgia é um sentimento presente para a maioria das pessoas. As
mudanças do mundo nem sempre são percebidas de forma positiva para alguns porque
não se reconhecem nas coisas de hoje.
Sair para dançar, andar pela cidade a
pé ou de ônibus, ir a uma festa de família ou de amigos, ir à escola, faculdade
e fazer um curso. Quem diria que isso tudo era tão importante para a
convivência social.
Parece que hoje nos relacionamos mais com coisas do que com pessoas. O que contribui para o acirramento nas relações sociais. As pessoas estão com mais dificuldade para se relacionar umas com as outras. O preconceito de raça, classe e gênero não foi inventado agora, isso sempre existiu. Porém, a expressão da intolerância e a violência relacionada a isso foi escancarada pelas redes sociais.
A polarização gerada pelo confronto de idéias tem
impedido muitas vezes as pessoas de conversar umas com as outras
independentemente de seu posicionamento político. Vivemos em um ambiente de
constante tensão. Como se tivesse uma bomba prestes a explodir e onde pessoas de forma oportunista se aproveitam do anonimato fornecido pela internet para praticar seus crimes.
Tudo isso gerou enorme perda nos
relacionamentos e trocas sociais. Será que tem remédio para isso? Combatemos a intolerância, o preconceito e a discriminação, contudo, como é possível ter alguma tolerância para continuar tendo convivência social?
E o envelhecimento? Essa sensação
danada do tempo passando. Será que algumas coisas da vida somente são vividas
em algumas fases da vida? Como nos reinventar para não deixar de viver? Ao
mesmo tempo como é desafiador chegar num lugar novo com pessoas tão diferentes.
Será que a gente aguenta?
O que será então que é importante para
a convivência entre as pessoas? Pois é, começamos e terminamos nos perguntando
o que, como e o porquê.
Como diz Belchior na canção que foi
brilhantemente interpretada por Elis Regina, "Como Nossos Pais":
"O novo sempre vem" e pode ser que o novo não nos agrade, mas ele é
uma expressão do que a vida se transformou.
O desafio então de não ser somente um amante do passado que não vê está aí, mais do que nunca, colocado para nos fazer progredir e dar forma, corpo e cara a essa nova geração de nós mesmos se aproveitando dos avanços mas sem esquecer da importância das coisas simples e da necessidade de olhar para as contradições que nos constituem.