Nessa semana, temos o prazer de receber no nosso Blog a visita de nossa querida psicóloga residente Adriele Baldessim. Ela chegou do Rio de Janeiro, onde esteve por um mês como residente em no Centro de Atenção Psicossocial III "Maria do Socorro", situado na comunidade da Rocinha.
Gediel: Qual foi o motivo de sua viagem? Quanto tempo você ficou?
Adriele: O que me levou para o Rio de Janeiro foi meu interesse em trabalhar num Centro de Atenção Psicossocial III de uma grande comunidade carioca. Quando surgiu a oportunidade de fazer estágio eletivo fora do município de Campinas, eu escolhi o Rio de Janeiro. Fiquei interessada porque a rede de saúde mental de lá está em processo de ampliação. Surgiram duas opões, a Rocinha e o Morro do Alemão. Fiz opção pela Rocinha considerando os meus horários. Fiquei um mês.
Gediel: Onde você ficou?
Adriele: A cidade do Rio de Janeiro é muito receptiva, porque tem uma relação especial com os turistas. Eu fiquei no alojamento de estudantes residentes UFRJ em Botafogo onde também fui muito bem recebida tanto pelo programa de residencia multiprofissional como pela equipe do CAPS mencionado.
Niltão: Minha amiga Adriele o que você achou do dia a dia da vida das pessoas na Rocinha?
Adriele: Eu, enquanto paulista, mesmo tendo morado em periferias do interior do estado noto algumas diferenças. Por exemplo, na comunidade existem alguns problemas quanto a infra-estrutura. Nota-se uma uma proximidade geográfica entre bairros ricos, mas distantes no aspecto social. Mas também há bastante circulação de pessoas entre os bairros, por exemplo, existe uma quadra com baile funk frequentada por artistas famosos. Quando eu conversava com os usuários do CAPS onde eu fiz este estágio, alguns achavam a Rocinha um bom lugar para viver, outros já citam o medo dos tiroteios, e a opressão da polícia e do tráfico.
Geovane: No CAPS da Rocinha como vocês lidam com uma pessoa que está em crise?
Adriele: Gio, assim como aqui, a equipe pensa em conjunto para cuidar deste usuário dentro do nosso plantel de possibilidades na instituição, na rede, no território.
Benjamin Jacob: Como foi o transporte?
A viagem é acessível, durou cerca de sete horas. Eu fui de ônibus e a passagem custou por volta de 100 reais.
Bruno: Dri, você pode falar sobre algumas diferenças da rede de saúde mental entre nossa Rede e a Rede Carioca?
A Rede Carioca nos últimos anos tem recebido mais investimento e um olhar maior para o fechamento dos leitos psiquiátricos. Estão abrindo serviços substitutivos e ampliando a rede. Há muita vontade dos trabalhadores de construir outras possibilidades. Mas a referência para a assistência à crise ainda passa pelos hospitais. Existem hospitais com muita história na cidade, por exemplo, o Instituto Nise da Silveira onde tem o Museu Imagens do Inconsciente, o Hospital Colonia ou ainda o Instituto Philip Pinel que são hospitais que estão em processo de desinstitucionalização. Em Campinas, por exemplo, existem apenas 70 leitos de internação no hospital Cândido Ferreira e outros serviços de cuidado à crise no território.
Rodrigo: Como você observou a participação dos usuários e familiares no CAPS? Você teve algum contato com a participação popular na comunidade? Você pode falar um pouco sobre o processo de pacificação pela UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)?
Quando eu conversava com os moradores eles pareciam ter um relação ainda muito difícil com a polícia. Dizendo não serem tratados com respeito, sempre com intimidações o que é tenso.
Não existe uma relação formal entre os grupos de representação social existentes na comunidade e o CAPS. No entanto, quando estes foram acionados por conta de um contexto especifico, estes puderam se aproximar e discutir. O CAPS tem 4 anos e em alguns espaços como a assembléia, eles estão tentando se organizar para a construção de um conselho local. Existe assembleia semanalmente e é uma espaço bastante frequentado e muito interessante.
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