Eu tinha cerca de 20 anos e estudava na universidade quando fiquei muito mal. Tinha vindo de um vilarejo rural em Devon e era minha primeira vez em uma cidade.
Quando cheguei à universidade foi assustador, mas fiz alguns amigos e estava gostando do curso de teatro. Mas não conseguia me livrar dos pensamentos depressivos que tive durante minha adolescência.
Tinha três empregos para pagar pela faculdade e ainda tinha que estudar. Tudo isso foi muito pesado.
Com o passar do tempo parei de dormir e foi aí que os problemas realmente começaram.
Senti como se o mundo tivesse perdido as cores. É a única forma de descrever. Tudo se transformou em um tom tedioso de cinza.
Pensamentos e frases começaram a desaparecer de minha mente. Eu pensava em algo e deixava ir embora. Puf! E não conseguia falar. As palavras simplesmente não saíam da minha boca.
Eu tinha medo o tempo todo, especialmente quando comecei a ouvir outras vozes no rádio e na TV. Eu não sabia o que estava acontecendo e não tinha ideia do quanto eu já estava doente.
Um fim de semana minha tia e meu tio me visitaram e, enquanto andávamos pela cidade, notei que não havia pessoas, de repente todas elas desapareceram e todos os prédios tinham desabado. Eu estava andando sozinha em uma cidade abandonada.
Claro que isto não estava acontecendo de verdade, mas quando você está no meio de um episódio psicótico aquela experiência do mundo é sua realidade. Não é como se estalando os dedos você pudesse voltar ao normal.
Aquele período da minha vida é incrivelmente nebuloso para mim. Eu estava tão confusa, assustada e cansada que realmente não me lembro de muita coisa.
E, porque eu não conseguia falar, não conseguia dizer para meus amigos e família o quanto a situação estava grave. Na verdade, acho que nem percebi. Quando você vive a psicose, na maior parte do tempo você está assustada demais para falar.
Um dia saí de casa, desorientada, sem saber onde estava indo. Sem ninguém para ajudar, vaguei pelas ruas da cidade sozinha e confusa, entrando em ônibus para tentar ir para casa sem saber para onde eles iam.
De alguma forma – até hoje não sei como – alguns amigos me encontraram angustiada e me levaram para a casa dos meus pais em Devon. Depois disso, eu não saí da casa durante dez anos.
Meus pais me levaram para um psiquiatra que conversou gentilmente comigo e me deu remédios para diminuir os chamados sintomas "positivos" da esquizofrenia. Entre estes estão alucinações, ilusões e a confusão que eu estava tendo.
Foi muito bom ouvir o diagnóstico. Esquizofrenia. Pelo menos eu sabia com o que tinha que lidar, tinha uma resposta e poderia seguir em frente.
Os medicamentos ajudaram quase imediatamente, mas eu realmente queria conversar com alguém em sessões de terapia. Naquela época havia uma falta de verbas para este tipo de tratamento na rede pública, algo que continua sendo um problema para pessoas com problemas mentais hoje.
Com os remédios, comecei a fazer pequenos avanços para me recuperar. Comecei a falar um pouco e conseguia tomar banho, os cuidados pessoais básicos. Qualquer um que diga que doença mental não é debilitante está errado.
Infelizmente, os remédios tiveram um efeito na minha saúde física e, no fim do ano seguinte, eu tinha engordado 63,5 quilos devido aos efeitos colaterais.
Quando engordei tudo ficou mais difícil. Me sentia pouco atraente, relutante em ver meus amigos e ainda tinha medo de sair, então era difícil me exercitar.
Depois de alguns anos consegui um emprego em um pub local. Colocava os fones de ouvido e ouvia música enquanto trabalhava, então eu gostava muito. Mas, infelizmente, eu ficava doente e não conseguia manter um emprego. Tudo parecia ser um círculo vicioso.
Então, algo miraculoso aconteceu e eu acabei fazendo alguns amigos. Eu gostava muito de arte e música antes de ficar doente e minha mãe me convenceu a entrar em um grupo de teatro local.
Fiquei com medo da perspectiva de conhecer novas pessoas e atuar em um palco, mas todos me receberam bem e eu fiquei com um papel na peça que estavam encenando.
Não conseguia lembrar minhas falas, mas ninguém parecia se importar, os outros eram rápidos e engraçados e conseguiam preencher quando eu esquecia.
Meu melhor amigo no grupo, Tristan, me apoiava muito. Contei a ele que tinha esquizofrenia, ele já tinha passado por problemas de saúde mental também. Um dia ele anunciou que planejava entrar em uma universidade e sugeriu que eu tentasse também.
Estava aterrorizada, mas, com o apoio dele, tentei. Para minha surpresa, fui aceita na Escola de Arte Chelsea. Minha vida começou.
Comecei a fazer fotos e filmes que expressavam como eu meu sentia. Me comunicava melhor por aqueles meios do que por palavras.
Outro passo importante foi que fui indicada para uma ótima equipe de saúde mental que me ajudou a obter o apoio que precisava para ser mais independente. E os funcionários e estudantes do colégio de arte me deram todo o apoio que precisava.
Dois anos atrás, tive outro pequeno problema quando meu ganho de peso me impediu de me recuperar totalmente de uma infecção e passei dez dias em cuidados intensivos com um caso grave de asma.
Felizmente fiquei bem depois, o bastante para uma cirurgia que me ajudou a perder peso, outro passo importante na minha recuperação.
Comecei a trabalhar como voluntária em uma instituição de caridade local voltada para saúde mental, o que me deu mais experiência. Eles me indicaram para terapia, o que foi fundamental na minha recuperação.
Mas a organização teve cortes de verbas e o escritório onde eu trabalhava foi fechado.
Antes disso, eles me ajudaram a tentar o mestrado na Royal College of Art e eu comecei a trabalhar como professora. Agora estou tentando o doutorado.
Precisei de 20 anos para chegar a este ponto da recuperação e ainda tenho problemas. Esquizofrenia é uma doença muito difícil de conviver e tenho sorte de ter o apoio da minha família e amigos.
Se pudermos desafiar o preconceito, conseguir investimento apropriado em saúde mental, demonstrar gentileza e dar apoio aos que enfrentam problemas como esquizofrenia, então as pessoas não serão abandonadas pelo tempo que eu fui.
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