quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Azul É a Cor Mais Quente: crítica do filme

As atrizes Adèle Exarchopoulos (à esquerda) e Léa Seydoux
Azul É a Cor Mais Quente é um estudo de três horas de duração sobre o primeiro amor lésbico, minuciosamente detalhista e voluptuosamente erótico. Seu roteirista e diretor, o franco-tunisiano Abdellatif Kechiche, teve um revés com seu último filme, Vênus Negra, de 2010. A cinebiografia imponente de Saartjie Baartman, escrava sul-africana que virou atração de circo no século 19, acabou se mostrando muito perturbadora para os distribuidores britânicos e americanos.
Após uma experiência dessa, a maioria dos diretores retrocederia para um território mais seguro, mas a maioria dos diretores não é Kechiche. Azul É a Cor Mais Quente é o retorno mais singular que o diretor de O Segredo do Grão poderia fazer, além de o filme mais rico de sua carreira.
Nada na narrativa do filme cronológico nem na ascensão e queda de seu romance central é particularmente novo ou ousado. Ainda assim, é incomum vermos a perspectiva libertária sobre o desejo jovem em sua maturidade emocional. Nossa heroína, Adèle (Adèle Exarchopoulos), começa o filme como uma colegial precoce e termina como uma mulher madura, mas com muito a aprender sobre si mesma.

Diferentemente de tantos outros filmes sobre relações homossexuais, que focam em sair do armário como a experiência gay definitiva, Azul É a Cor Mais Quente passa por essa etapa da vida de Adèle em um ousado salto do tempo, encontrando um drama mais profundo nos desafios que se desenvolvem por ela manter sua sexualidade indefinida.
Adèle tem 15 anos quando percebe que há algo errado em seus namoros.

O colega de classe Thomas (Jeremie Laheurte), menino dos sonhos, está em cima dela, mas ela não consegue esquecer um encontro passageiro com Emma (Léa Seydoux), estudante de arte de cabelos azuis. As garotas se reencontram na primeira e tímida ida de Emma a um bar de lésbicas, e o amor entre elas desabrocha rapidamente – levando a uma das cenas de sexo lésbico mais sensuais da história do cinema. Mas, ao contrário de Emma, mais velha e cosmopolita, Adèle nunca relaxa por completo em relação à sua identidade sexual e ainda a mantém cuidadosamente resguardada quando o filme pula vários anos para a situação em que o casal mora junto, em uma frágil felicidade doméstica.

A partir dessa história simples e sem nada de especial, Kechiche criou um épico intimista em todos os sentidos, com sutil reviravolta emocional representada na tela pelo rosto expressivo de Exarchopoulos. Com apenas 19 anos, a atriz representa sem nenhum esforço o crescimento de Adèle, de menina a jovem mulher. Enquanto isso, como é de praxe nos filmes do diretor, sua jornada individual tem lugar em uma rede movimentada de amigos, de familiares e de comida. Ele continua sendo um cineasta sociável, o que torna a ternura arrepiante do novo filme ainda mais notável.

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